UMA CARTA(.) PARA: LA LA LAND.

Argos Crítica
4 min readSep 18, 2021

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Por: Carlos Anselmi

Confesso que, por mais tempo que escreva sobre cinema, inclusive com todos os textos não publicados aqui (mas escritos e guardados), nunca consegui formular muito sobre “La La Land — Cantando as Estações” (2016). Talvez porque este seja um filme que eu ame muito, e não sei o quanto posso acrescentar falando de uma obra que já considero impecável por si só.

Não que eu não ame todos os outros filmes que já abordei antes ou que tenha a pretensão de “acrescentar muito”. “Cópia Fiel” (2010), “O Irlandês” (2019), “Cléo das 5 às 7” (1962), “Django Livre” (2012), entre outros que escrevi, se encontram — no mínimo — , entre meus 50 filmes preferidos. Mas, nestes casos citados, foi relativamente fácil encontrar um tema que se relacione mais claramente com o filme.

Por aqui, geralmente abordo uma questão mais específica, e uso uma obra para tratar disso, e não o contrário, raramente escrevo — neste espaço — uma crítica propriamente dita a um filme. Porém, ao pensar em “La La Land”, muitas coisas diferentes passam a ser relevantes como tema: sonhos, amor, prioridades, música, entre tantos outros. E talvez, por isso, seja tão difícil encontrar algo definido e definitivo que consideraria importante para separar e comentar.

E, ainda que seja possível desenvolver bem um texto com qualquer um destes temas, algo nessa semana parece mais importante de se pontuar. Por que gostamos de um filme e escrevemos sobre ele? Este é um texto sobre escrita.

LA LA LAND

O texto crítico é argumentativo por natureza. Quem te escreve quer colocar pontos para te mostrar os motivos pelos quais gostou de uma obra. Quando escrevo sobre “O Irlandês” (que defendo ser o maior filme da última década) quero te mostrar o porquê da minha posição, e a defesa dela. Um texto serve para te encorajar ou não a assistir algo, para debater um assunto após ver a obra, e abrir o espaço para uma discussão saudável. Mas, em “La La Land”, o fator identificação é o que me grita mais alto e antes de qualquer ponto, de um modo que racionalizar fica difícil. E esse é um ponto curioso.

Quando e escreve, há a tentativa de racionalizar as ideias de modo que seu argumento final faça sentido. Mas com alguns filmes não conseguimos fazer isso. E como sempre, trago exemplos para a comparação (dessa vez, com a plena certeza de que é muito exagerado).

Quando você está apaixonado e acha a pessoa que está com você “a mais bonita do mundo”, ou quando, na escola, você escreve uma carta de dia dos pais ou das mães e todos afirmam — cada um para o seu respectivo — que estes são os melhores do mundo, provavelmente há uma hipérbole aí. Se formos racionalizar tudo, há bilhões de pessoas no mundo, e a probabilidade de existir uma outra pessoa muitíssimo similar a estas, mas com um pequeno traço que te agradaria mais que a que você considera “a melhor” é praticamente certa. Mas não pensamos nisso na maior parte do tempo, e se pensarmos, nunca estaremos satisfeitos com absolutamente nada. Por que, naquele momento, aquela é a que te faz mais feliz.

E com alguns filmes acontecem exatamente a mesma coisa. Pode não ser o melhor do mundo, e se você parar pra pensar, muito provavelmente não vai ser. Mesmo para você, que já ama. E tudo bem, mesmo para quem é crítico, abrir mão da análise e admitir que é quase que exclusivamente por algum fator mais difícil de explicar.

Algumas vezes vai ser fácil nos lembramos de cenas específicas, algum corte ou ângulo que foi realmente impressionante, o modo como o diretor consegue expressar um sentimento através das imagens, fatores e questões importantes para nós que nos emocionaram, uma virada completamente inesperada, mas em alguns casos, não. Você só gosta sem conseguir explicar. E também faz parte assumir isso de vez em quando.

Você pode amar seu filme de herói favorito sem precisar convencer ninguém de que ele é incrível em tudo. Você pode até conseguir convencer, e é válido fazer isso outras vezes também (é a maior parte do trabalho). É legal e acrescenta muito ver a convicção e os motivos que fazem alguém gostar de algo e defender um ponto, nosso primeiro texto é inteiramente voltado para isso. Muitas vezes aprendemos e podemos ter uma nova perspectiva através de um texto que lemos sobre algo. Mas, em outras, só não é necessário mostrar ou convencer ninguém, o filme só fala com você de uma maneira bonita e identificável.

Do mesmo jeito que “La La Land” é uma carta de admiração para Hollywood (reconhecendo os defeitos da cidade-indústria), para os musicais, e para os sonhadores, esta é uma carta para “La La Land”, sem nenhuma explicação.

Com amor,

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Argos Crítica

Crítica de cinema e música. Nos sigam nas redes sociais @argoscritica.