Taylor Swift — ALL TO WELL?

Argos Crítica
4 min readNov 16, 2021

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Por: Carlos Anselmi

Taylor Swift

Seguindo a sequência de regravações por uma “briga”, no mínimo, estranha com sua ex gravadora, a Big Machine Records, Taylor Swift lança, novamente, “Red”, seu quarto álbum de estúdio, originalmente lançado em 2012.

Seu “novo” disco conta com uma versão estendida de 10 minutos da faixa “All Too Well”, que é acompanhada de um curta-metragem escrito e dirigido pela cantora. O curta (ou, vídeo clipe) tem 15 minutos de duração, e apresenta as atuações de Sadie Sink (como “ela”) e Dylan O’Brien (creditado como “ele”).

Desde seu lançamento original, há especulações de que a música trate da versão da cantora sobre o final de seu relacionamento com o ator Jake Gyllenhaal, conhecido por diversos filmes como Zodíaco (2007), O Abutre (2014), entre outras grandes obras, e indicado ao Oscar em 2006 por “O Segredo de Brokeback Mountain”.

Com o lançamento do vídeo clipe, as especulações se intensificam e os fãs traçam diversas correlações entre as imagens, a letra e momentos da vida de ambos. Porém, o que poderia ser apenas mais uma história de um relacionamento mal resolvido vira histeria nas mãos mais raivosas e emocionadas que se encontram na internet. E para tentar desenhar um argumento que seja mais racional é preciso levantar alguns pontos.

Cancelamento

A palavra que acompanha as redes sociais, a cada instante com uma nova vítima, parece buscar incessantemente alguém para atacar, por qualquer motivo que seja. E em muitos casos, o comportamento de manada virtual não parece uma busca por justiça, mas antes de tudo, algo criado alimentar o ego de pessoas que se acham moralmente superiores. Mas deve-se considerar: há casos e casos.

É possível listar diferentes celebridades que foram acusados de diferentes crimes (alguns julgados e comprovados), e outros que se mantém apenas no nível das especulações. Há evidências de falas racistas, crimes reais de assédio, agressões físicas, homofobia, entre outros, de pessoas famosas pelo mundo todo. E o cancelamento, ainda assim, é algo questionável e que difere entre as partes como resposta individual. Há quem ache justo, há que consiga tentar “separar a obra do artista”, há quem considere problemático, há quem veja como um comportamento que dá apenas mais força virtual para o cancelado (com alguns números que evidenciam isso), entre diversas outras opiniões. Mas há algo que deveria ser consenso: um crime é um crime, um relacionamento que não deu certo é apenas isso.

Em meio há adicionais “just between us”, ironicamente, Taylor Swift realimenta o mundo da internet que reage as novas especulações de seu breve relacionamento com o ator há mais de dez anos atrás com mais uma tentativa (falha) de cancelamento seletivo. É isso, Jake Gyllenhaal não é mais digno da nossa admiração. Segundo a cantora que lembra bem demais, ele não segurou sua mão na mesa durante um jantar na outra década. Próxima vítima.

Não faz o menor sentido ou lógica, o comportamento de uma parcela de fãs da cantora (que já acusam o ator até de cometer crimes e cobram por um “exposed” do próximo), uma vez que a própria Taylor Swift já se posicionou contrária a este tipo de atividade virtual diversas vezes, principalmente por já ter sido alvo antes (primeiramente por mentir ao afirmar não saber da existência de “Famous” de Kanye West — com a ligação exposta por Kim Kardashian — e em seguida por acusações relacionadas a racismo e colonialismo selvagem em seu clipe “Wildest Dreams”). É irresponsável, irracional e completamente desprendido da realidade colocar em pé de igualdade virtual qualquer crime com um relacionamento falido.

E o curta é basicamente isso, a história de um relacionamento (real ou não) que não deu certo a partir de um ponto de vista, sendo exibido em aspecto 4:3 com comparações óbvias, quase nada de novo que já não fosse explicito na letra e takes, no mínimo, clichê. E novamente, se vê nas redes sociais que até o questionamento sobre uma versão mais completa (que não a exclusivamente criada pelos fãs a partir dos clipes e letras) é errada, como se fosse comparável a “questionar uma vítima”. É como se o final de qualquer relacionamento a dois fosse feito apenas com acusação de crimes, abusos e manipulações inquestionáveis, mesmo que este não seja o caso.

Ao fazer isso, o comportamento histérico dos “canceladores” coloca em cheque acusações reais feitas pelas próprias pessoas que sofrem algum tipo de ofensa séria. Se qualquer coisa é cancelada, nada é, e pautas importantes são passíveis de comparação com a manada que apenas faz barulho online, uma vez que qualquer vítima escolhida é comparada com criminosos apenas por diversão.

Neste último final de semana, ainda que o protagonista do filme de 2014 tenha sido Jake Gyllenhaal, ficou claro quem são os verdadeiros abutres. Alguém tem que superar esse relacionamento.

E quanto ao ator, vamos rezar para que se cure deste grande golpe irreparável que levou em sua carreira para que, na melhor das hipóteses, tenha um lugar na Fazenda 2022.

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