#HC1 — A História do Cinema: CHEGANDO AO PRIMEIRO CINEMA

Argos Crítica
7 min readJul 13, 2021

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Por: Carlos Anselmi

A Saída dos Operários da Fábrica Lumière (1895)

Como dito antes aqui, no que apelidamos carinhosamente de #HC0, e também em nossas redes sociais, hoje começa oficialmente nossa série de textos sobre a História do Cinema. Como muitos de vocês que acompanham a página, nós também somos apaixonados pela arte e nos interessamos muito pela sua história. Aqui, prezo muito pelo contexto histórico e a importância de relacionar e entender arte alinhada com o momento em que a sociedade estava quando qualquer obra foi criada, então, por isso, vamos começar essa série do início. Mas qual foi, exatamente, o início? Hoje vamos falar (e mostrar) um pouco do primeiro cinema.

Assim como todos os próximos textos da série, vamos trazer alguns filmes para que a história que estamos contando seja mais fácil de relacionar. Vamos ler e, hoje mesmo, assistir quatro filmes. (Mas não se preocupe, o total não vai tomar nem 2 minutos do seu tempo).

I. Origens históricas

Se pensarmos em uma resposta mais rápida sobre o “primeiro cinema”, podemos dizer que este começa com os irmãos Louis e Auguste Lumière, ao projetar o filme ‘Sortie de L’usine Lumière à Lyon’ ou, em português, ‘A Saída dos Operários da Fábrica Lumière. As gravações aconteceram no dia 19 de março de 1895, e seu lançamento se deu no dia 22 do mesmo mês, exibido em um café em Paris. Hoje, esta é considerada a primeira obra de cinema a ser exibida. É um curta metragem de 45 segundos com cerca de 7 metros de extensão e em média 800 frames.

Mas a invenção dos Lumière não aconteceu de repente. Assim como todo avanço tecnológico, há um grande caminho de desenvolvimento e interesse humano que pode ser rastreado no retrospecto, e que culminaram na invenção do cinematógrafo. Para isso, precisamos voltar alguns séculos (e até milênios) no passado.

Desde o que se entende por pré história, há registro de arte como expressão, como uma representação da realidade por meio de algo que se pode ver. Há indícios de arte rupestre que pode ser datada de aproximadamente 40.000 a.C. com registro de pinturas nas paredes e tetos das cavernas. Isso pode indicar uma necessidade inerente do homem de se comunicar e se expressar.

Se nos adiantarmos alguns milênios, temos então, o chamado “Teatro das Sombras”, uma arte milenar do sudeste da Ásia que já constituía a linguagem teatral, onde as imagens eram projetadas como sombras nas paredes, com interpretações com máscaras e luz (que pode ter chegado na Europa pelo século XVIII). Há diversos registros da origem do teatro, da interpretação, e das artes, mas por agora, vamos focar um pouco mais no cinema.

Em diferentes continentes e períodos do tempo, o homem usa da arte para se expressar, e em diversos casos, por meio da representação de imagens e pelo som. Já sabendo, então, de uma necessidade e inclinação do homem por se expressar e contar histórias, a pergunta que fica para chegar ao cinema é: onde — e quando — a tecnologia cinematográfica começa a conversar com esse meio de expressão?

II. Origens para a Tecnologia Cinematográfica

No século XV e XVI, Leonardo da Vinci já trabalhava em projeções de luz na superfície, por meio de lentes de vidro, assim como Giovanni Baptista Della Porta, com imagens representadas de forma invertida. Essa invenção é chamada, hoje, de Câmera Escura. Dois séculos no futuro, Athanasius Kirchner, onde hoje é a Alemanha, desenvolveu um aparelho chamado de Lanterna Mágica, no qual se pintava imagens que eram projetadas (assim como a câmera escura) por meio de lentes. Neste caso, já havia narradores e músicas acompanhado em algumas apresentações com o instrumento.

Hoje, muitos de nós conhecemos cinema por definição como uma combinação de imagem e som, portanto, a fotografia é uma das invenções mais importantes para que tenhamos a sétima arte como conhecemos hoje. Em nossa viagem, agora avançando para o século XIX, temos a primeira fotografia. Ainda que sua origem seja debatida (por ser um objeto de desenvolvimento ao longo da história, e não criada por um único inventor) a primeira fotografia da história é datada de 1826, sendo registrada por Joseph Nicéphore Niépce na França, chamada inicialmente de heliografia.

Primeira fotografia registrada (1826)

Apenas 6 anos após a primeira fotografia, agora em 1832, Joseph-Antoine Plateau criou o fenacistoscópio, um aparelho circular que continha imagens similares com variações nas posições, fazendo com que a sequência dessas imagens passassem a impressão de movimento ao serem giradas. Aqui, já começa a se desenhar um cenário tecnológico da existência da fotografia e trabalhos com imagens em movimento, caminhando para a combinação que culminaria no que chamamos de “moving pictures”.

Fenacistoscópio

III. Tecnologia Cinematográfica

Agora, finalmente começaremos a assistir alguns filmes, todos os links estão no texto para que você possa ver os filmes (que duram poucos segundos) enquanto lê nosso artigo.

Estacionando nossa viagem ainda na segunda metade do século XIX, Eadweard Muybridge ao colocar 12, e em seguida 24, câmeras fotográficas em um hipódromo, fotografou as passagens de um cavalo. Ao colocar as imagens em um disco giratório, similar ao fenacistoscópio, conseguiu simular as imagens do cavalo em movimento. Agora então temos o que chamado ‘Sallie Gardner at a Gallop’, uma das primeiras imagens em movimento, gravada em 1878 e pode ser assistida clicando aqui, em um vídeo que só tem 20 segundos (e para você que usa o aplicativo, está disponível para loggar no letterboxd, assim como todos os outros dos textos). Nosso primeiro filme da série, então, é um dos primeiros exemplos de imagens em movimento.

Agora, em 1877, temos a criação do praxinoscópio por Émile Reynaud, que assim como o fenacistoscópio descrito anteriormente, consiste do movimento circular para trazer a simulação do movimento, porém, se antes tinha formato de disco, aqui funciona quase como um carrossel. O desenvolvimento deste instrumento possibilitou a exibição das imagens em movimento para públicos maiores. Este espetáculo ficaria conhecido como “Teatro Ótico”.

Praxinoscópio

IV. O Primeiro Cinema

Chegamos então, em nossa viagem, ao chamado primeiro cinema ou o “cinema de atrações”, que segundo Flávia Cesarino Costa, pode ser dividido em dois períodos: primeiramente entre 1984 e 1908 com os desenvolvimentos tecnológicos com filmes não (exatamente) narrativos, e em seguida, entre 1908 a 1915 com o surgimento de narrativas.

Ainda que consideremos o início do cinema com os irmãos Lumière, é preciso comentar sobre Louis Aimé Augustin Le Prince, o inventor que filmou as primeiras imagens em movimento em película usando as lentes da câmera, conhecido como “o pai da cinematografia”. Seu filme Roundhay Garden Scene, de 1888, só possui 3 segundos de duração, e é o sobrevivemente mais antigo de um registro cinematográfico que temos, podendo ser assistido aqui.

Em 1891, temos o desenvolvimento do cinetoscópio, por William K. L. Dickson e Thomas Edison nos Estados Unidos, onde se poderia assistir imagens em looping por meio de um visor. Aqui temos nosso terceiro filme da série, chamado “Dickson Experimental Sound Film”, gravado em 1894 e é o registro mais antigo de um filme onde o som é gravado pelo fonógrafo, podendo ser assistido em totalidade (17 segundos) aqui.

E agora sim, filnalmente chegamos ao cinematógrafo e aos irmão Lumière em 1895, que comentamos no início do texto. Este aparelho, é o primeiro a gravar, copiar e também projetar as imagens. Aqui podemos dizer que foi o início da produção cinematográfica. Já no mesmo ano, foi organizado em dezembro a primeira exibição pública de cinema paga, no Salão do Grand Café em Paris.

Grand Café de Paris

É muito interessante notar que, o que seria chamado por muitos de “o primeiro filme da história” é justamente a cena de operários deixando a fábrica. Ainda que uma cena banal, é quase poético, pois o que sustenta o cinema, e todo a estrutura do mundo é justamente o trabalhador comum, e este registro é onde começamos nossa história. Veja ‘La Sortie de l’Usine Lunière à Lyon’ clicando aqui.

Na proxíma semana, teremos a Parte 2 do texto sobre o Primeiro Cinema. Se hoje falamos de tecnologias cinematográficas, no próximo traremos os pioneiros em técnicas cinematográficas. Traremos o primeiro close-up, o primeiro filme colorido pintado a mão, a primeira animação, o primeiro beijo em frente às câmeras, e outras inovações. Esperamos você aqui mais uma vez.

Acompanhe nosso índice com todas as publicações da série História do Cinema ordenadas ao final do texto #HC0, este link te leva direto para lá.

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